terça-feira, 28 de setembro de 2010

Programa Circo Circuito – Garotas ácidas!

Escrever sobre o rock feminino no Brasil é o mesmo que escrever sobre o rock brasileiro. Suas histórias estão atreladas de tão vasto e interessante que é o material.

A começar pelo primeiro rock gravado no Brasil, Nora Ney (conhecida cantora de samba-canção) que prestou uma homenagem a Bill Haley com Ronda das Horas, primeira versão no Brasil para Rock around the Clock. Depois disto tivemos a explosão da garota do Rock, ou Celly Campelo, a primeira mulher a ter um programa de Rock em um canal de TV, Crush em Hi-Fi que apresentava junto com seu irmão Tony Campello.

Após a fase do rock instrumental, que não temos registros de bandas formadas por garotas, a época da Jovem Guarda criou vários grupos famosos por serem constituídos apenas por meninas, tais como As Oncinhas, As Brasas, a cantora Enza Fiori, Fátima Reis (que gravou um compacto belíssimo com o conjunto Rollin Fevers), a dupla Kitty & Ketty (gravou um compacto com um tema garagem chamado Ora se vai), entre muitas outras.

Vale lembrar que naquela época o publico era muito machista e pensava que lugar de mulher era em casa. Elas até podiam ficar em casa, mas empunhando uma guitarra, ao invés de uma vassoura, tanto que no final da década de 60 muitas outras cantoras se destacariam neste meio.

Talvez a principal delas seja a rainha Rita Lee, que junto do grupo Os Mutantes mudaram para sempre a história da musica moderna. Mas esta é uma história a parte.

O que queremos mostrar com o novo programa são vertentes curiosas na musica psicodélica e a veia roqueira feminina que existia e existe até hoje.

Gal Costa, por exemplo, gravou maravilhosos Lps e faixas bem agressivas para a época como todo o LP psicodélico da cantora, entre outras faixas como Acauã, do LP Le-Gal, em que flerta a macia voz de uma adolescente com a agressividade da mesma! Não é a toa que navegou numa boa entre o continente da MPB e do rock “maldito e alienado” da dupla Roberto e Erasmo.





Outras como De Kalafe viviam na obscuridade, mas mostrando o melhor de si, deixando canções belíssimas para esta humanidade, com mensagens puras e profundas. Ficou conhecida também por se apresentar descalça em seus shows, atitude da mágica década de 60.

Suely poderia ter sido uma Rita Lee, afinal iniciaram a carreira musical juntas, mas preferiu seguir por outros caminhos. O único compacto que deixou gravado é maravilhoso. A música apresentada no programa remete aos dias de infância, com um toque ácido de psicodelia juvenil.

Marisa Rossi, outra cantora desconhecida. Até onde se sabe deixou apenas um compacto gravado pela Continental, aquela do selo amarelo. Além de bela faixa, a cantora era linda e a curiosidade é que foi namorada do Fábio, que prestou homenagem deixando esta faixa para a cantora.

Lena Rios, a atitude em pessoa. Musa de Torquato Neto, lançou alguns compactos e Lps sempre muito bem acompanhada, além de serem itens de colecionador. O “compacto preto” é o mais procurado e você tem sorte de poder conhecê-lo melhor através do nosso programa!





Outras como Vanusa e Silvinha Araújo, cativavam o publico pela voz suave e outrora agressiva, além claro de muito bem acompanhadas de seus parceiros também do ramo, que as ajudavam na gravação e elaboração dos discos.

Luiza Maria, na minha opinião, o melhor disco com a melhor voz. Realmente é de arrepiar. Eu queria ser um anjo, título de um dos álbuns mais bonitos da musica e do rock brasileiro, mas também é uma história a parte, principalmente pela cozinha musical, uma das mais completas do Brasil.

O grupo Umas e Outras, que misturava a MPB avançada com toques de psicodelia com uma simplicidade incrível. Gravaram um ótimo disco pelo selo Polydor, produzido por Nelson Motta em 1970, também item de colecionador. Disco que está no hall dos “sons-pra-gringo-ver”. Se você procurar bem é capaz de achar umas cópias por ai.

A vertente é vasta e vale lembrar que existem diversas outras bandas e principalmente cantoras desconhecidas. Muitas não conseguiram gravar, ou deixaram canções inacabadas ou perdidas pelos corredores das gravadoras, hoje já extintas. Outras viram a luz do dia mais de 30 anos depois, como as Cilibrinas do Éden, ótima banda formada por Rita Lee e Lucia Turnbull, logo após a saída de Rita do seu antigo grupo. Disco super criativo, que se tornou um dos raros e perdidos álbuns do rock brasileiro. Foi lançado recentemente na Europa.





A gravadora Mocambo talvez seja a que mais apostou nas meninas, deixando vários registros em compacto simples.

Mas o que interessa é que até hoje existem diversas bandas de rock feminino por ai, no Brasil e mundo afora. Para nossa sorte, a maioria merece o nosso prestígio.

Se você quiser conhecê-las melhor, o myspace é um bom começo. Agora as bandas mais “obscuras” de outros tempos só pesquisando em sebos e livros, talvez você ache um disco que mude a sua vida, e ainda por cima com uma bela voz feminina.

Girls on acid, ou, garotas ácidas!

Lipa.

Programa Circo Circuito

A luta continua!