segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Circo Circuito apresenta: A História do Watt 69

Sempre torci o nariz para bandas que, mesmo com oportunidade e capacidade, preferiam gravar covers a canções próprias. Mas sempre existe uma exceção, neste caso, a banda Watt 69. Esta barreira, que eu mesmo criei, foi quebrada após a primeira audição do único LP deixado pelo grupo e depois disto iniciei uma busca por informações que traçassem a trajetória deste grande conjunto dos anos 60.

O Watt 69 iniciou sua trajetória no bairro Jardim Europa, na cidade de São Paulo, e inicialmente era formado por Mario Cerveira Filho (bateria) e Sylvio Caruso (baixo), Marcio Correia da Silva (guitarra base e cantor), Clodinho (guitarrista solo), e Paulo Sartorelli, nos vocais. Ainda nos anos 60. 

Mario era um assíduo freqüentador das domingueiras do Clube Pinheiros além de ser colega de classe do Nenê, dos Incríveis, que lhe apoiou no início de sua carreira musical. Mario adorava música desde criança, e o fato de ser bisneto do Maestro Cardim, alimentava ainda mais este desejo. Nesta época (por ser sócio do Clube Pinheiros), conhecia Dudu França (do Colt 45), que lhe apresentou Zeca (baixista da banda), que por sua vez lhe apresentou ao Sylvio Caruso. Estava formado o conjunto. A curiosidade desta época é que Mario já havia tocado em outro grupo chamado “US” (um “conjunto de garagem”), que até onde se sabe, não deixou nada gravado.

 

O curioso nome do novo grupo  surgiu enquanto Mario e Silvio tomavam um whisky chamado VAT 69, e após algumas doses, decidiram pela alcunha que misturava o nome da bebida com algo relacionado à força ou amperagem.. Decidiram deixar o 69 para ser confundido com o nome do whisky e ao mesmo algo “sexual”. Pronto, o nome do grupo era Watt`s 69.

Nesta época tocaram muito em aniversários de 15 anos e na boate Sallum, que ficava nos fundos de uma galeria localizada na Rua Augusta, um lugar que fervia com a juventude da época. Tocavam Jonny Rivers, Beatles etc., sempre se preocupando com a parte vocal, que era e ainda continua sendo, primorosa. Afinal, escutavam e tocavam muito Beach Boys.

Mario tinha apenas 15 anos e mesmo assim conseguia dar um jeito de tocar na casa, sem o dono desconfiar de nada.

O grupo também passou a fazer shows em navios, indo e voltando de Manaus, Angra dos Reis dentre outros destinos. Os “animadores dos navios” da época eram: Carlos Zara e a dupla Vadeco e Odilon (muita famosa na época, com programas de televisão).


Foi ai que o Watt 69 conseguiu fama e muito trabalho. Tocavam até em réveillons, e enquanto todos se divertiam e se abraçavam, desejando um feliz ano novo ao som de “Adeus amor eu vou partir”, a banda chorava em “coro” sem poder se abraçar. Mas tudo valeu à pena.

Nesta fase a banda passa por uma nova mudança, com a entrada de Zeca (que vinha do Colt 45) para substituir Marcio, Ignácio também sai da banda e Sylvio passa para a guitarra base, Lotcy para os teclados e Bob (Roberto Rosa) nos vocais.

Haveria ainda outra mudança, aquela que seria a formação clássica do Watt 69, com Sylvio no baixo, Mario na bateria, Lotcy nos teclados, Bidu (Jorge Adamo) nos vocais e Marcos “Vermelho” Ficarelli na guitarra.

Foi com esta formação que fizeram fama no Círculo Militar e gravaram o Lp homônimo em 1971 pela gravadora Continental. Vale lembrar que nesta época a banda já atendia pelo nome de Watt 69, que era mais fácil de pronunciar, mas, mesmo assim o disco foi lançado como Watt`s 69.

Marcos Ficarelli, já tinha experiência nos estúdios de gravação, e era um dos músicos mais requisitados pelas bandas de garagem da época. Já havia gravado com os Top Sounds, um raro LP instrumental, e também com o Código 90, um grupo underground de São Paulo que deixou apenas um compacto gravado. Mas foi com o Loupha que fez sucesso, afinal a banda foi finalista e ganhou o prêmio da Jovem Guarda.


O LP apresentava clássicos do rock norte americano e europeu, mas com uma roupagem moderna e ousada. Nem precisa dizer que é um dos raros Lps do rock brasileiro. O disco abre com o “Satisfaction”, e com certeza uma das versões mais curiosas onde a banda mistura o beat dos Stones com a latinidade de Carlos Santana e a pitada ácida do que havia de melhor no Rock Progressivo que dominava a sonoridade dos grupos mais antenados. 

Nesta época a banda tinha diversas músicas próprias, sempre composições em inglês, por preferência dos integrantes, porem não tiveram oportunidade de gravá-las.  A Continental e o maestro Pocho, impuseram a maioria das músicas, e outras foram escolhidas pela banda após muita insistência. Mas nos shows a dosagem entre as versões e as músicas próprias era perfeita.

A gravadora não divulgou o disco, como deveria, mas mesmo assim as 1000 cópias iniciais foram vendidas rapidamente. A banda tinha uma agenda lotada e diversos fãs, afinal era uma das atrações principais no disputado Circulo Militar, um dos maiores sonhos do Watt 69 estava realizado! E, assim, ficaram conhecidos como ”os reis das domingueiras”.


Nos clubes mais famosos, tocavam apenas as melhores bandas como Som Beat, Kompha, Memphis, Sunday, Módulo 1000, para citar alguns. Estas bandas também possuíam os melhores instrumentos e o Watt 69 não estava de fora. Na época o proprietário da Goppe (Henrique) fez especialmente para a banda uma bateria toda transparente e depois uma toda preta.

Utilizavam também amplificadores Marshall, os Palmer feitos “à mão” pelo grande “Sossego”, como também, os valvulados feitos pela CSSound do Carlinhos e do falecido Salvador,  mesas de mixagem da Altec, Neve e Putnam, câmaras de eco etc. Isto tudo ainda na década de 60!

Já nos anos 70 era um pouco mais fácil conseguir a aparelhagem ideal, o Mariano utilizava uma Fender Stratocaster, às vezes uma Gi bson SG e pedais de distorção ColourSound. O baixista Sylvio  teve um baixo Baldyn e um FenderJazzbass,  havia o Holland de Lotcy e o Mario começou a ter todos os tipos de baterias importadas. Show!!!

Outras mudanças ocorreriam com o grupo, Sylvio voltaria para o baixo com a entrada de Mariano na guitarra solo. Sai também Bidu para a entrada de Flavio “Pinta” nos vocais, Gel sai da bateria para deixá-la com Juba (Roberto Garrido Rangel/Joelho e Porco e depois Blitz), e ainda a entrada de Gabriel Tomaselli nos vocais, no lugar do Flávio.

São desta áurea fase as músicas “She`s my woman”, “Suzy “ e “Love can you love”, de autoria da banda. Em 1976 duas destas canções foram gravadas e lançadas em compacto simples, porém sem muita notoriedade. A banda ainda participaria de um curioso split, de um lado Valdic Soriano (?!) e do outro Watt 69, hoje um compacto raro e desconhecido, lançado pela gravadora Continental com uma das faixas do LP, “She`s a lady”.


Durante as décadas de 80 e 90, continuariam tocando, porém com menos intensidade. Cada integrante seguiu caminhos profissionais diferentes, mas o amor ao rock and roll sempre permaneceu aceso. Foi quando no início de 2000 foram convidados a participar do evento Rock and Roll Celebration, juntamente com as bandas Sunday, Lee Jackson, Memphis e Kompha. Este projeto foi produzido pela Abril Music que lançou três CDs e um DVD para registrar o momento.

Em 2007 lançariam o tão esperado CD independente, com um repertório cheio de canções de amor e clássicos do rock, com a produção de Mariano Gordinho. Este material está disponível no site da banda: http://www.watt69.com.br

E para quem pensa que acabou por ai, está enganado. O Watt 69 continua na ativa, tocando o melhor do rock internacional nas melhores casas noturnas do Brasil e do exterior. Sempre com um ótimo repertório e com ótimos músicos (com dois integrantes da formação original, e Mariano Gordinho, que está com a banda desde 72).

Por isso vamos celebrar o Rock and Roll e prestigiar esta grande banda, que está viva desde os anos 60. Afinal não é todo dia que se vê um grupo da áurea fase do rock, tocando até hoje. Realmente não é para qualquer um.


Agradecemos a colaboração de:
Mario Cerveira Filho e a banda Watt 69; 
Nelson (grande amigo).

Programa Circo Circuito
A luta continua!